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Inovações disruptivas

Texto por Alexandre Nascimento

Há muitos anos, um jovem chamado Clayton fundou uma startup atuando no mesmo mercado de empresas gigantes, como DuPont e Alcoa. Ao contrário do que era esperado, a empresa de Clayton, chamada Ceramics Process Systems Corporation, foi a única que teve sucesso no nicho de mercado em que ele atuava. Ou seja, por incrível que pareça, as empresas gigantes do setor não conseguiam ter sucesso, mesmo com muito mais recursos humanos e financeiros. Por que isto aconteceu? Seria porque Clayton e seus sócios (professores do MIT) eram mais espertos que os executivos destas empresas?

No entanto, mesmo sem entender a razão, Clayton observou que às vezes categorias inteiras de negócios colapsavam em um curto espaço de tempo, e que muitos destes negócios eram administrados por gestores experientes e com histórico de sucesso. Um exemplo disso é o que ocorreu com empresas como a Kodak, por exemplo, que produziam filmes para fotografias, e, que foram seriamente impactadas pelo surgimento das câmeras digitais. Então, a razão não parecia estar apenas ligada a competência técnica de seus gestores. Clayton resolveu estudar o tema profundamente em um doutorado e, posteriormente lançou o livro “The Innovator’s Dilemma”, baseado na teoria da Inovação Disruptiva que criou a partir de seus estudos.

O conceito central da teoria é a distinção entre tecnologias de sustentação e tecnologias disruptivas. As tecnologias de sustentação são voltadas para a produção de inovações que trazem melhorias incrementais: por exemplo, um computador com um processador mais rápido e mais memória, ou uma televisão com uma imagem de maior definição. Já as tecnologias disruptivas são geralmente mais simples, mais baratas e muitas vezes mais convenientes de serem utilizadas.

Assim, as empresas tradicionais que dominam um determinado setor ou mercado, criam e produzem um produto muito bom e conseguem manter sua base de clientes utilizando tecnologias de sustentação para melhorarem os produtos em novas versões ao longo de diferentes gerações de produtos. Como consequência, os produtos vão se tornando cada vez mais sofisticados, e, atingem um nível de qualidade que ultrapassa o nível de performance necessário para satisfazer mesmo os consumidores high-end que são os mais sofisticados e exigentes que atendem.

As tecnologias disruptivas geralmente começam em novos mercados, permitindo que seus fabricantes cresçam rapidamente. Geralmente quando estas tecnologias são introduzidas no mercado, elas possuem um preço mais baixo e um nível de performance relativamente baixo quando comparado com os produtos oferecidos pelos líderes. No entanto, o nível de qualidade e performance são adequados para as necessidades que uma parcela low-end do mercado. E, como consequência desta expansão e de sucessivas melhorias da tecnologia, passam a atrair uma parcela cada vez maior de consumidores. Assim, com o tempo, elas acabam tomando os mercados tradicionais das empresas dominantes.

Em suma a dinâmica da competição entre os líderes do mercado os empurra para criar cada vez mais sofisticações em seus produtos. Os recursos destas empresas são investidos massivamente nesta competição por inovação, proteção e expansão no mercado diante de seus competidores. Tal escalada na competição entre as empresas tradicionais e líderes cria, de acordo com Clayton Christensen, um vácuo abaixo delas, que é aproveitada pelos inovadores disruptivos, que vão abocanhando parcelas do mercado considerado “low-end” com produtos mais baratos e com menos funcionalidades. Como as parcelas “low-end” são geralmente negligenciadas pelos fabricantes tradicionais, esta expansão não exige grande esforço e recursos por parte dos inovadores disruptivos, que geralmente nem encontram respostas competitivas das empresas estabelecidas. Assim, de acordo com Clayton, “os líderes acabam sendo mortos por debaixo”.

Um exemplo desse fenômeno pode ser observado em como a Toyota conseguiu com o Corolla provocar a disrupção das três empresas tradicionais do setor automobilístico na década de 70 nos Estados Unidos. Enquanto a General Motors, Ford e Chrysler competiam produzindo carros cada vez mais confortáveis, mais potentes, mais seguros e com mais funcionalidades, a Toyota produziu um carro muito mais barato, mais leve, com um consumo mais econômico, de elevada confiabilidade e durabilidade necessitando de menos manutenção. Mesmo sendo um carro menos confortável, menos seguro, e com muito menos acessórios que seus competidores, ele foi adotado por parcelas do mercado que não compravam carros ou que compravam carros usados. Com isto, eles construíram um novo mercado para carros novos, o que gerou um crescimento do mercado. Em suma, a Toyota adicionou novas fatias ao bolo original, de forma que passou a ter uma participação significativa sobre o volume total.

Um conceito muito importante da teoria de Clayton é que uma empresa entrando com uma tecnologia disruptiva no mercado compete geralmente contra o não consumo. Ou seja, enquanto as empresas tradicionais competem entre si pelos mesmos consumidores, elas deixam uma parcela do mercado aberta e inexplorada para os novos entrantes. Assim, as empresas com uma tecnologia disruptiva estão convertendo não consumidores em consumidores, o que permite dizer que elas competem contra o não consumo.

Pode-se imaginar então que a saída para uma empresa seria manter duas frentes: uma com tecnologias de sustentação e outra com tecnologias disruptivas. Desta forma uma empresa estabelecida estaria protegida de novos entrantes com produtos disruptivos. No entanto os dois objetivos são conflitantes, e as pressões de investidores dificultam o processo de inovação. Inovações geralmente geram margens de lucro baixas no início, e, retornam no longo prazo, o que conflita com os interesses de retornos imediatos de acionistas. Adicionalmente, o perfil dos colaboradores que são bons inovadores difere dos bons recursos operacionais.  

O termo inovação disruptiva acabou virando um termo usado de forma indiscriminada no mundo de negócios, ainda mais quando se trata do contexto de novos negócios ou startups. No entanto, é importante ressaltar que tal entendimento de disrupção não é o mesmo de acordo com a teoria de Clayton Christensen. O senso comum entende que disrupção é interromper o progresso normal de alguma coisa ou fazer com que algo não possa continuar em seu caminho normal. Já sob a ótica de Clayton, de acordo com a interpretação de Ilan Mochari, disrupção é o que acontece quando os incumbentes estão tão focados em agradar seus clientes mais rentáveis que acabam negligenciando ou julgando erradamente as necessidades de outros segmentos.

Outro ponto importante a ser observado é que a ideia de disrupção de Clayton Christensen está mais associada à um processo do que um produto ou serviço específico. De fato, de acordo com Clayton, leva tempo para saber se um modelo de negócio inovador irá ter sucesso. No entanto, mesmo obtendo-se o sucesso, o novo modelo pode ser apenas mais um competidor no mercado, ou, uma empresa que empurra os negócios já estabelecidos para fora do mercado. A chave para se entender é observar o processo e entender se o produto ou serviço está evoluindo o modelo de negócio para atender melhor às necessidades dos consumidores.

O caso da Toyota com o carro Corolla nos Estados Unidos é um exemplo de um processo de disrupção no mercado de automóveis. Nos EUA, o Corolla é um carro barato, diferentemente do que ocorre no Brasil. Assim, enquanto as empresas americanas competiam entre si e lançavam carros com cada vez mais acessórios, a Toyota introduziu o Corolla por um preço muito mais baixo do que era praticado por lá, mas o carro tinha menos acessórios, bem como menos itens de conforto. Por outro lado, o Corolla não exigia tanta manutenção e era mais econômico, principalmente quando comparado com outros carros de características similares. Isto permitiu que pessoas que só compravam carros usados, e que, portanto, não eram o principal alvo das montadoras, bem como os que não compravam carros, pudessem fazer parte do mercado de carros novos. Com isto a Toyota conquistou uma parcela significativa neste novo mercado consumidor de carros. Ou seja, em termos práticos, a Toyota foi capaz de capturar um público mais low-end que comprava carros usados, e ainda criou um novo mercado com as pessoas que não compravam carros.  

Por fim, esta teoria não funciona em todos os negócios, de acordo com o próprio Clayton. Um exemplo disto é o McDonald’s que entrou no segmento inferior do mercado e lá permaneceu.  Nas indústrias em que isto ocorre há um núcleo tecnológico. Em outras palavras, nessas indústrias há um sistema dentro do produto ou de sua produção que define sua performance e pode ser estendido para fatias superiores do mercado para fazer as coisas de uma forma melhor. Isto explica a razão do McDonald’s ter permanecido na sua posição. Para se mover para os mercados acima ele poderia vender sanduíches à um preço mais elevado, mas teria que emular as características de qualidade dos hambúrgueres de qualidade superior.

Alexandre Moreira Nascimento é consultor, pesquisador em Inteligência Artificial e Dispositivos Autônomos Inteligentes e expert da SingularityU Brazil.

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A startup brasileira que ficou entre as cinco melhores soluções do mundo pelo Pandemic Challenge, da Singularity University

Seguindo metodologias ágeis e contando com colaboração internacional, a empresa brasileira especializada em biotecnologia Visto.Bio deu vida a um cosmético patenteado globalmente que ficou entre as cinco melhores soluções do mundo pelo “Pandemic Challenge” da Singularity University.

O reconhecimento se deve à ideia inovadora de unir ao processamento molecular do álcool com princípios ativos de óleos essenciais nativos do Brasil com capacidade antiviral comprovada, resultando em um produto que protege por até 24 horas contra microorganismos.

Com o reconhecimento da pandemia pela Organização Mundial da Saúde em março deste ano, a empresa passou a desenvolver a nova versão de uma fórmula criada em 2014 que, além de proteger contra microorganismos, é eficaz para evitar a propagação de vírus.

“Criamos a marca com objetivo de gerar transformações nos hábitos da sociedade, na busca por um equilíbrio entre pessoas, roupas e planeta. São transformações de hábitos e consumo que já estavam em curso e, em situações como a atual, são aceleradas”, conta Renan Serrano, fundador da empresa criada para incentivar as pessoas a lavarem menos suas roupas, reduzindo impactos ambientais – desde o consumo de água e produtos químicos nas lavagens, até o aumento da durabilidade das peças.

A nova fórmula do Visto.Bio Antisséptico já possui certificações de laboratórios habilitados pela Anvisa para uso seguro, não prejudicial a crianças, animais e plantas. O produto confere de forma biotecnológica, inodora e hipoalergênica uma assepsia 100% natural, agindo como uma barreira protetiva aliada no combate à disseminação de doenças e microorganismos, reduzindo cargas virais.

No final de 2019, a empresa recebeu aporte de 1,2 milhão de reais, sendo o maior cheque da história da Anjos do Brasil. A marca já possui parceiros de varejo como Farm, Animale, Natalie Klein e Carrefour, interessados na proteção de clientes e colaboradores. Conversamos com o fundador e CEO da Visto.Bio, Renan Serrano.

No processo de pesquisa e criação de produtos da Visto.Bio como se dá a busca por inovação?
Serrano – Hoje, temos um fluxo de inovação que se dá de maneira rápida. Identificamos os problemas na sociedade, buscamos mensurar o impacto desses problemas na vida das pessoas e no meio ambiente, e em uma semana validamos se essa situação é passível de ser solucionada.

Durante a pandemia, elencamos dez cenários e conseguimos evoluir em três. O primeiro foi a necessidade de um produto antisséptico, que acabou nos tornando a primeira startup do país a entregar essa solução para o mercado. Por ser um produto cosmético, hipoalergênico, dermatologicamente testado e sustentável em sua cadeia, acabou levando a um segundo cenário, em que o produto age como desodorante – podendo ser usado em diferentes superfícies (tecidos variados, corpo e cabelo). O terceiro cenário é disponibilizar nossa equipe de pesquisa e desenvolvimento para apoiar empresas e startups em qualquer estágio de maturidade para trabalharmos em conjunto, avaliando possibilidade e viabilidade. Ajudamos a avaliar a questão das patentes, a pesquisa de mercado, enfim, no que for possível. Diferentemente de uma aceleradora que tem interesses financeiros, nosso objetivo é fomentar uma rede de apoio.

Qual a sensação de ter a Visto.Bio sendo eleita como uma das cinco melhores soluções do mundo pelo Pandemic Challenge da Singularity University?
Serrano – A equipe ficou muito feliz. Foi um reconhecimento importante, que nos deu mais confiança. No Brasil, a inovação não tem tanto mérito. Um exemplo disso foi o produto desodorante que poderia ser aplicado na roupa. A Anvisa nos informou que não há categoria de desodorante para uso em roupas. Segundo o órgão regulador, ou é desodorante ou não é desodorante. Ou seja, a inovação ainda é bastante reprimida em território nacional por questões de esferas maiores.

Entre desistir e abandonar o país para criar em lugares mais abertos, optamos por permanecer e levantar a bandeira para ajudar o Brasil a se colocar como um dos principais pólos de inovação, pesquisa e desenvolvimento do mundo. Essa premiação nos ajuda a mostrar que há coisas boas feitas no Brasil e que o mundo deve continuar de olho em nós.

Quando a Visto. Bio lançou no mercado uma solução antisséptica com óleos essenciais dificilmente imaginaria que em alguns anos o mundo precisaria exatamente desse tipo de produto. Agora que atravessamos uma pandemia, qual a inovação a empresa tem em mente?
Serrano – Acreditamos que ainda estamos no processo de enfrentamento da pandemia e, infelizmente, pode ser a primeira de diversas que ocorrerão em períodos cada vez menos espaçados. O intuito é continuarmos evoluindo nossa fórmula, visando uma proteção permanente de maneira não-tóxica, saudável para as pessoas e também para o planeta.

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O levante dos aspirationals

Aspirationals não é uma daquelas gerações que os psicólogos gostam de nos enquadrar pela data de nascimento. Nem é só mais um tipo de consumidor que o pessoal de marketing gosta de segmentar para identificar preferências. É um termo criado para englobar uma camada da sociedade que compartilha novos valores e que começa a aparecer com mais frequência.

O aumento da educação e da capacidade de comunicação independente via redes sociais deu o poder e a voz que os Aspirationals precisavam para se revelarem, e isso justifica seu maior número entre as gerações mais novas. Contudo, eles já representam mais de um terço do total de consumidores mundiais, segundo estudos da GlobeScan.

No momento atual, além do COVID-19, o mundo está sendo sacudido pelas manifestações que iniciaram nos EUA e se estenderam para outros países, questionando não somente o racismo estrutural, mas a própria economia mundial que não consegue lidar com obstáculos e incertezas em momentos de crises – gerando enorme desemprego p.e.

As empresas que podem estão se digitalizando e automatizando seus processos. Com isso, os empregos não serão os mesmos quando a pandemia acabar. O avanço inevitável das tecnologias exponenciais, principalemente Inteligência Artificial, fará com que esse movimento continue acelerando. Portando, é de se esperar que uma camada da população esclarecida – mas acostumada a ficar em silêncio – comece a se movimentar.

O aumento da voz dos Aspirationals está ajudando a criar um “novo capitalismo” que já foi exposto no manifesto das 181 maiores empresas americanas no ano passado. Juntas elas representam mais de 17 milhões de empregos e sabem que para sobreviver no longo prazo vão precisar se adaptar aos novos valores emergentes na população, que estão além do lucro.

Isso não quer dizer que o lucro e o crescimento econômico não importam – Aspirationals consomem e querem ter muitas experiências – mas para eles as empresas e os governos devem estar alinhados com questões de sustentabilidade, tanto em relação ao meio ambiente quanto ao bem estar social – que em última análise é o objetivo de toda economia.

Entenda o que são people skills e como desenvolvê-las!

Parece difícil para um país como o Brasil com tantos desafios básicos pensar em questões de sustentabilidade e longo prazo. Alguns economistas inclusive justificam o crescimento passado dos países desenvolvidos – e mais recentemente da China – à liberdade de infringir regras de meio ambiente e direitos humanos, e por isso defedem que países em desenvolvimento sigam os mesmos passos.

A razão deles está nos indicadores da economia industrial, mas o avanço das tecnlogias está nos distanciando dela cada vez mais. O surgimento de novos arranjos econômicos cresce a passos exponenciais, desestruturando muitos dos modelos econômicos montados no século passado. Ficar preso a eles é mero apego ou estratégia protecionista.

Não se trata somente da nova economia digital, mas da economia real com todas suas necessidades de criação e distribuição de recursos para resolver os grandes desafios globais. As tecnologias estão tornando as cadeias de produção e suprimento cada vez mais eficientes, e um mundo com pouca necessidade de trabalho humano e sem escassez de recursos é uma questão de tempo.

Espalhar tecnologia para todos os cantos do planeta acelera o progresso mundial, podemos melhorar a educação, o poder de comunicação, a capacidade de interação e dar acesso à ferramentas de produtividade que dinamizam as economias locais. Governos que se fecham à globalização ou aos avanços da tecnologia podem até melhorar momentâneamente alguns indicadores industriais, mas vão fazer sua população pagar pelo atraso no futuro.

As brigas entre governos dificilmente representam as vontades das suas populações, porém com a comunicação concentrada na mão de poucos ficava difícil perceber isso. Somos seres sociais, e agora nos comunicamos livremente pelo mundo digital, compartilhando ideais que extrapolam sistemas políticos, classes sociais, gerações, etnias e fronteiras.

Os gráficos acima foram retirados do estudo da GlobeScan que resumiu seus resultados em Cinco Aspirações Humanas. São elas:

  1. Abundância sem desperdício: Usar a criatividade e evitar a escassez.
  2. Verdade como ela é: Aceitar as imperfeições e mostrar a verdade.
  3. Estar mais próximo: Saber quem são as pessoas por trás das organizações.
  4. Ter de tudo: Poder experimentar e consumir o que o progresso nos traz.
  5. Fazer algo bom: Saber como impactar de forma positiva o mundo a cada dia.

O estudo buscou identificar o comportamento de 22 mil pessoas ao redor do mundo para saber como as marcas devem se posicionar no futuro. Os itens 1,4 e 5 são abordados com frequência na Singularity University e vê-los emergindo na população reafirma o otimismo que sabemos que podemos (e devemos) levar para dentro de todas as organizações do Brasil.

Eduardo Ibrahim é Faculty de Inteligência Artificial e Economia Comportamental da SU Brazil

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O reconhecimento facial e a vigilância digital acabarão com o protesto anônimo?

Já se passaram quase duas semanas desde que as pessoas saíram às ruas em Minneapolis para protestar contra a brutalidade policial após a morte de George Floyd e Breonna Taylor nas mãos da polícia. Desde então, as manifestações ganharam força e se espalharam para cidades dos EUA e do mundo.

O protesto é um componente crítico da democracia saudável. Um megafone pode atrair a atenção dos que estão no poder e ser instrumento de mudanças. Nos EUA, é um direito constitucional. Porém, cada vez mais, as agências policiais estão solicitando imagens de protesto, e as mais recentes tecnologias estão trazendo consigo o poder de lançar uma rede de vigilância cada vez maior.

Quando São Francisco se tornou a primeira cidade dos EUA a proibir o reconhecimento facial, em maio de 2019, talvez os legisladores tivessem em mente algo como o que vem ocorrendo nas últimas semanas. Em épocas passadas, o anonimato em protestos era garantido pelo volume de pessoas. “Apenas um rosto na multidão” realmente tinha significado. Agora, com smartphones, câmeras de alta definição e algoritmos poderosos, protestos anônimos podem em breve ser uma coisa do passado.

Enquanto cidades como Oakland e Berkeley, Califórnia, Somerville, Brookline e Massachusetts também proibiram o reconhecimento facial, outras cidades em todo o país ainda permitem e usaram ativamente o reconhecimento facial na aplicação da lei recentemente.

Os algoritmos de reconhecimento facial identificam as pessoas pesquisando e combinando com imagens de vastos bancos de dados. Esses bancos de dados podem ser limitados a fotos de arquivo policial ou imagens mais específicas, como fotos da carteira de motorista. A startup Clearview AI compôs um banco de dados de bilhões de imagens extraídas de milhares de sites on-line sem consentimento – incluindo sites como Facebook e YouTube – e vendeu o acesso ao banco de dados e ao software de reconhecimento facial a centenas de agências policiais.

Um artigo do Buzzfeed News, na semana passada, disse que os departamentos de polícia de Minneapolis e arredores usaram Clearview em fevereiro. Outro artigo da publicação de ciência e tecnologia da Medium, One-Zero, observou vários outros exemplos de uso recente de reconhecimento facial e solicitações dos departamentos de polícia locais e do FBI para filmagens e imagens dos protestos.

A capacidade existe e os sistemas foram usados, mas nem sempre é claro como as autoridades estão empregando o reconhecimento facial no dia-a-dia e durante os protestos.

Os defensores argumentam que, usada com responsabilidade, a tecnologia pode ser uma ferramenta valiosa para localizar com mais sucesso as pessoas que cometeram crimes. Mas suas limitações também foram bem documentadas, não apenas em termos de precisão geral, mas também em viés interno, com alguns algoritmos que confundem pessoas de cor e mulheres em taxas muito mais altas.

Com a ausência de regras e regulamentos claros, há potencial para uso indevido e, quanto maior e mais profunda a vigilância digital, mais ela pode provocar medo e congelar a liberdade de expressão.

“Essas tecnologias de vigilância não devem ser usadas em manifestantes”, disse ao BuzzFeed, Neema Singh Guliani, consultor legislativo da ACLU. “A ideia de que você tem grupos de pessoas que estão levantando preocupações legítimas e agora podem estar sujeitas a reconhecimento ou vigilância, simplesmente porque optam por protestar, amplia as preocupações gerais com a aplicação da lei com essa tecnologia”.

Nos EUA, nenhum regulamento federal governa o reconhecimento facial, deixando-o com uma colcha de retalhos de leis estaduais e municipais. Em um artigo da Wired em dezembro passado, Susan Crawford argumentou que essa abordagem pode trazer alguns benefícios. O governo federal pode não ser capaz de agir tão cedo. Enquanto isso, debates e experimentos locais em nível de cidade e estado podem informar e pressionar uma regulamentação mais ampla no topo.

Os smartphones transmitem uma variedade de informações que podem ser interceptadas e gravadas. E, embora nós humanos reconheçamos as pessoas por seus rostos ou vozes, os algoritmos que permitem esse tipo de vigilância não têm essas limitações. Muitas vezes, eles são capazes de encontrar padrões que não podemos ver e nem mesmo entendemos. Os pesquisadores mostraram que os algoritmos podem identificar as pessoas por sua marcha ou batimentos cardíacos (medidos por laser a 200 metros). Pode não haver um banco de dados de marcha e batimentos cardíacos ainda, mas a tecnologia está aqui.

A questão mais ampla não é qual parte da informação está sendo usada, mas que ela pode ser usada de maneira generalizada. Limitar como, quando, por que e quem usa pode ajudar a proteger liberdades vitais.

A questão, como sempre, é como manejar a tecnologia para melhor nos servir?

Crawford sugere exigir mandados para investigações e limitar o uso em tempo real. Também podemos restringir o armazenamento de dados, exigir auditoria profunda e relatórios públicos sobre o uso da tecnologia, punir o uso indevido e proibir o uso em áreas propensas a discriminação.

Se queremos uma sociedade flexível o suficiente para responder às vozes de seu povo, precisamos acompanhar de perto como essas tecnologias serão implantadas no futuro.

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Um mercado de trabalho centrado no humano: por que é importante e como construí-lo

Muito antes de o coronavírus surgir e destruir nosso “normal” pré-existente, o futuro do trabalho era um tópico amplamente discutido e debatido. Observamos a automação lentamente expandir e reduzir mais e mais os empregos, e passamos a nos perguntar do que a inteligência artificial é capaz.

A pandemia rapidamente virou o mundo do trabalho de ponta cabeça, deixando milhões de pessoas desempregadas e forçando outras milhões a trabalharem remotamente. Mas as questões essenciais permanecem praticamente inalteradas: ainda queremos garantir que não sejamos substituídos, que agreguemos valor e que tenhamos uma sociedade com equidade – em que diferentes tipos de trabalho sejam valorizados de maneira justa.

Para abordar essas questões – bem como o impacto da pandemia – nesta semana, a Singularity University realizou um summit digital sobre o futuro do trabalho. Quarenta e três palestrantes de diversas origens, países e setores da economia compartilharam seus conhecimentos sobre tudo, desde o trabalho nos mercados em desenvolvimento até o porquê de não querermos voltar ao normal anterior.

Gary Bolles, presidente do hub de Futuro do Trabalho da Singularity University, iniciou a discussão com seus pensamentos sobre um futuro do trabalho centrado no ser humano, incluindo por que é importante e como construí-lo.

O que é trabalho? – “Trabalho” parece ser um conceito simples de definir, mas muda constantemente de forma ao longo do tempo. Bolles definiu o trabalho, basicamente, como habilidades humanas aplicadas a problemas.

“Não importa se é um piso sujo, uma estratégia complexa de entrada no mercado ou um grande desafio no mundo”, disse ele. “Nós, como seres humanos, criamos valor aplicando nossas habilidades para resolver problemas do mundo.” Você pode pensar nos problemas que precisam ser resolvidos como a demanda e as habilidades humanas como a oferta, e os dois estão em constante oscilação. Com eventuais reviravoltas no período de algumas décadas ou séculos.

E estamos no meio de um desses pontos de virada agora (já estávamos, antes da pandemia). As habilidades há muito procuradas estão diminuindo. O relatório Future of Jobs de 2018, do Fórum Econômico Mundial, listou coisas como destreza manual, gerenciamento de recursos financeiros e materiais, controle de qualidade e conscientização de segurança, como habilidades em declínio. Enquanto isso, as habilidades da próxima geração precisarão incluir pensamento e inovação analíticos, inteligência emocional, criatividade e análise de sistemas.

Com a chegada da pandemia – Com o surto de coronavírus e sua disseminação pelo mundo, o lado da demanda do trabalho diminuiu; todos os problemas que precisavam ser resolvidos deram lugar ao problema muito maior e mais imediato de manter as pessoas vivas. Mas, como resultado, dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo estão sem trabalho – e essas são apenas as que estão sendo contadas – uma fração do total real. Existem milhões adicionais em empregos sazonais ou que possuem atividades informais, agora sem trabalho também.

“Esta é a nossa oportunidade de focarmos no tema”, disse Bolles. “Como podemos ajudar as pessoas a se re-engajarem com o trabalho? Como gerarmos trabalhos melhores, uma economia melhor e um conjunto melhor de heurísticas de design para o mundo que todos queremos?”

Bolles elencou cinco questões-chave – algumas estimuladas pelo impacto da pandemia – nas quais as conversas sobre o futuro do trabalho devem se concentrar para garantir que seja um futuro centrado no ser humano.

1. Como é um mercado de trabalho inclusivo? Em vez de ver nossos sistemas atuais de trabalho como imutáveis, precisamos realmente entender esses sistemas e como queremos alterá-los.

2. Como podemos aumentar o valor do trabalho humano? Sabemos que robôs e softwares se darão bem no futuro – mas, para que os humanos também estejam bem, precisamos planejar isso intencionalmente.

3. Como o empreendedorismo pode ajudar a criar um mercado do trabalho melhor? Em muitas economias, o novo valor criado geralmente vem de empresas mais jovens; como fomentarmos o empreendedorismo?

4. Como será a interseção entre local de trabalho e geografia? Uma grande porcentagem da força de trabalho global agora está trabalhando em casa; quais poderiam ser alguns dos resultados disso? Como fica o trabalho informal?

5. Como podemos garantir uma evolução saudável do trabalho e da vida? A saúde e a proteção das pessoas em risco é o motivo pelo qual fechamos nossas economias, mas precisamos encontrar um equilíbrio que permita que as pessoas trabalhem, mantendo-as em segurança.

A resolução do problema não é o fim dele – O resultado final para o qual essas perguntas estão se dirigindo, e nosso objetivo principal, é maximizar o potencial humano. “Se descobrirmos maneiras de continuar fazendo isso, teremos um futuro de trabalho muito mais benéfico”, disse Bolles. “Todos nós deveríamos estar falando sobre onde podemos ter um impacto.”

Tínhamos muitos problemas a resolver no mundo antes de ouvir falar sobre o coronavírus, e agora temos ainda mais. O ritmo da automação está acelerando devido ao vírus? Sim. As empresas estão buscando maneiras de automatizar seus processos para impedir que seus funcionários fiquem doentes? Também.

Mas temos uma série de novos problemas em nossas mãos e não vamos parar de precisar de habilidades humanas para resolvê-los (sem mencionar os novos problemas que certamente surgirão, como efeitos de segunda e terceira ordem dos desligamentos).

Em um artigo de abril intitulado “The Great Reset”, Bolles descreveu três fases da crise do desemprego (atualmente ainda estamos na primeira fase) e o que devemos fazer para minimizar os danos. “A evolução do trabalho não é sobre o que acontecerá daqui a 10 a 20 anos”, disse ele. “É sobre o que poderíamos fazer de maneira diferente hoje.”

Assista à palestra de Bolles e à de dezenas de outros especialistas para obter mais informações sobre a construção de um futuro de trabalho centrado no ser humano aqui.

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Quais os resultados do maior teste de renda básica universal até o momento?

A perda generalizada de empregos devido à pandemia de coronavírus está levando a um interesse renovado pela ideia de uma renda básica universal (UBI – universal basic income). Isso coincidiu perfeitamente com a publicação dos resultados do maior experimento de UBI até o momento – mas, segundo o colunista da Singularity Hub, Edd Gent, eles sugerem que a ideia pode não ser uma Panaceia.

Mais de 36 milhões de americanos solicitaram subsídios de desemprego nos últimos 2 meses, já que o bloqueio fez com que muitas empresas reduzissem o quadro de funcionários ou até decretassem falência. Isso levou a níveis anteriormente inconcebíveis de auxílio estatal, incluindo pagamentos diretos em dinheiro aos cidadãos como parte do pacote de estímulo.

Os pedidos pela renda básica universal fazem parte de uma ideia que já estava ganhando popularidade nos últimos anos. Seria exatamente como a política que está sendo debatida enquanto é praticada, mas envolveria todos os cidadãos indiscriminadamente recebendo pagamentos regulares e sem restrições, podendo cobrir suas necessidades básicas.

Os defensores dizem que o UBI poderia simplificar o sistema de assistência social e, como os pagamentos não estariam relacionados ao status de emprego, as pessoas não se preocupariam em perder o benefício se procurassem trabalho. Em contrapartida, os que se opõem dizem que seria financeiramente insustentável e poderia desmotivar as pessoas a buscarem por emprego.

O tema foi a peça central da campanha de Andrew Yang para a nomeação presidencial democrática e um tópico importante entre as elites do Vale do Silício, preocupadas com o impacto que a automação poderia ter no mercado de trabalho. Mas o massacre econômico causado pela pandemia parece ter dado um impulso ainda maior à ideia.

Uma pesquisa recente constatou que 71% dos europeus apoiam a UBI. Até mesmo o Papa adotou a ideia em seu discurso de Páscoa. A ministra de Assuntos Econômicos da Espanha, Nadia Calvino, disse que o governo em breve lançará algum tipo de renda básica que permanecerá após o fim da pandemia. A presidente da Câmara estadunidense, Nancy Pelosi, se mostrou aberta à ideia em comentários recentes.

Prever o impacto de uma convulsão sem precedentes no relacionamento entre o Estado e o indivíduo é surpreendentemente difícil. Assim como a busca por evidências que favoreçam ou contrariem a proposta. Houveram diversos ensaios em pequena escala, mas o mais ambicioso até o momento ocorreu na Finlândia de 2017 a 2018, e o relatório final foi publicado na semana passada.

O estudo selecionou 2.000 pessoas desempregadas aleatoriamente e concedeu-lhes pagamentos mensais incondicionais de € 560. Seus resultados foram comparados com 173.000 pessoas nos benefícios-padrão de desemprego da Finlândia. Os pesquisadores concederam ao The Guardian os resultados que contêm munição tanto para proponentes quanto para detratores da ideia.

A conclusão principal foi que aqueles que receberam pagamentos incondicionais relataram uma melhora significativa no bem-estar financeiro e mental. Eles também viram uma ligeira melhora no emprego, com os destinatários trabalhando em média mais seis dias entre novembro de 2017 e outubro de 2018 do que o grupo de controle.

Dado que muitos prevêem a implantação de UBI em todo o país seria extremamente caro, um aumento tão modesto na probabilidade de voltar ao trabalho foi anunciado por alguns como um fracasso. Mas também parece contradizer os temores de que esse esquema desmotive as pessoas na procura por trabalho.

Para além dos resultados econômicos brutos, as pesquisas com os participantes que receberam a renda básica universal descobriram que a medida aumentou seus índices de bem-estar, segurança financeira e confiança no futuro. Os autores do relatório disseram ao The Guardian que os destinatários se sentiam mais capacitados para realizar trabalhos voluntários ou tentar iniciar novos empreendimentos.

O estudo só pode nos trazer isso, por hora. Apesar de ser o maior teste até o momento, é difícil extrapolar os resultados até a escala de um programa nacional e também é impossível prever o impacto que intervenções semelhantes teriam em países com culturas e sistemas governamentais muito diferentes.

No entanto, ocorrendo no meio do maior desastre global deste século, o lançamento do estudo é um lembrete oportuno de que talvez seja hora de políticos de todo o mundo reavaliarem sua relação com o Estado de bem-estar social.

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Como a ciência do envelhecimento nos ajudará a combater futuras pandemias

Enquanto o mundo responde à pandemia do COVID-19, cientistas trabalham incansavelmente para entender a complexidade da doença. Conversamos com a cientista PhD em longevidade e diretora científica da OneSkin Technologies, Alessandra Zonari, para entender melhor a conexão entre vulnerabilidade infecciosa e envelhecimento.

O que os cientistas aprenderam até agora sobre as populações com maior risco de contrair COVID-19?
Zonari – Uma das primeiras lições do estudo das ramificações do COVID-19 é que a infecção afeta desproporcionalmente os idosos. Globalmente, mais de 80% das internações por COVID-19 são pacientes com mais de 65 anos de idade. Para quem tem mais de 80 anos, as chances de morte resultantes da infecção confirmada por COVID-19 aumentam para 21,9%.

Como cientistas, nos perguntamos o que esses números realmente significam sobre a infecção. E o que estamos aprendendo é que o envelhecimento representa um risco notável para a evolução da infecção por COVID-19.

Mais profundamente, os dados nos indicam que, se combatermos o envelhecimento, podemos fazer mais na resposta à doença. O envelhecimento tem sido considerado um fator de risco para muitas doenças, mas é provável que o envelhecimento seja uma doença em si, e que pode ser tratada. Mudanças a nível celular levam ao envelhecimento e podemos intervir nesse aspecto para prolongarmos a saúde. Além de trabalhar no combate ao vírus que causa o COVID-19, se quisermos reduzir a taxa de mortalidade, precisamos fortalecer o nosso próprio corpo, principalmente da população mais vulnerável, pois somos os “hospedeiros” do vírus. E é aí que a luta contra esta doença e a ciência da longevidade se cruzam.

O que pode contribuir para um maior risco de desenvolver um prognóstico mais grave de COVID-19?
Zonari –Vários aspectos do envelhecimento estão correlacionados ao aumento do número de idosos que contraem COVID-19. Um dos principais aspectos relacionados com envelhecimento, é que quando uma pessoa envelhece, o nível geral de inflamação no corpo acumula e isso contribui para um processo biológico conhecido como “inflammaging” (do inglês inflamação + envelhecimento).

O que isso significa para um vírus como o SARS-CoV-2 (a cepa do coronavírus que causa o COVID-19) é que com níveis mais altos de inflamação, a quantidade de ACE2 (uma molécula que se liga ao vírus SARS-CoV-2) na célula aumenta, isso facilita a entrada do vírus em nossas células e sua replicação. Além disso, com a idade, o número de células imunológicas responsáveis por matar as células infectadas presentes no corpo são reduzidas, diminuindo o mecanismo de defesa inato do corpo para combater a infecção. Portanto, o aumento da inflamação que está relacionado com o envelhecimento e a diminuição do potencial de resposta do sistema imune, pode resultar em um pior prognóstico da doença.

Reforçar a capacidade do sistema imunológico de combater uma infecção mais rapidamente não só ajudará a resposta biológica do nosso corpo ao SARS-COV-2, mas também nos preparará para responder a uma ampla gama de doenças e novas infecções. Dessa forma, podendo reduzir as proporções de futuras pandemias, incluindo a severidade da doença e gastos hospitalares e impactos socioeconômicos.

Os relatórios dizem que pode levar mais de um ano para se desenvolver uma vacina. Que outras terapias poderiam ajudar a combater o vírus enquanto isso?
Zonari – Como nos encontramos neste período de espera para que uma vacina chegue à aprovação e seja submetida a testes clínicos, outro objetivo da comunidade científica é encontrar novos tratamentos, como um medicamento antiviral específico para o vírus.
Entretanto, há uma terapia menos conhecida sendo investigada, que definitivamente merece uma explicação, e é o uso de geroprotetores. Os geroprotetores são uma classe de medicamentos projetados para combater uma ou mais características do envelhecimento com o objetivo de melhorar a saúde de uma pessoa (e seu período de vida livre de doenças), aumentando sua vida útil. Pesquisas em diferentes modelos animais demonstraram que muitos desses medicamentos, como metformina, rapamicina e senolíticos, podem reduzir a inflamação no corpo, prolongar a saúde animal e atrasar o desenvolvimento de doenças crônicas. Isso nos leva a acreditar que através dessas novas moléculas, poderemos otimizar o funcionamento do nosso corpo para que responda mais eficientemente a futuras infecções virais, incluindo a responsável por COVID-19.

Os geroprotetores já estão sendo testados em seres humanos?
Zonari – Sim, em ensaios clínicos. O que é especialmente interessante é que, no momento, os pesquisadores estão tentando correlacionar o uso desses medicamentos com a taxa de recuperação do COVID-19. A metformina, um medicamento amplamente usado no tratamento da diabetes tipo 2, exibe dados promissores para a proteção contra doenças relacionadas ao envelhecimento, cientificamente comprovados por atuar em vias metabólicas e inflamatórias específicas. Vários estudos clínicos mostram que os diabéticos tipo 2 que tomam metformina têm menor taxa de propensão a várias doenças incluindo demência, doenças cardiovasculares e câncer, em comparação com pacientes que não tomam metformina, mesmo que não sejam diabéticos. Ou seja, o uso de metformina pode prevenir a surgimento de doenças crônicas.

Os pesquisadores estão agora mapeando o resultado dos pacientes prescritos com metformina, que se recuperaram do COVID-19, para entenderem se o medicamento possui efeitos protetivos para a infecção viral.

Outro achado interessante veio de um ensaio clínico de fase 2 de um geroprotetor (RTB101) em pacientes com doença de Parkinson. Os dados mostraram que os indivíduos que tomavam o medicamento tiveram incidência reduzida de infecções do trato respiratório causadas por vários vírus, incluindo coronavírus (testado com outras cepas, antes da SARS-COV-2) em comparação com o grupo placebo.

Embora esses achados ainda estejam em fase preliminar, os dados nos dão mais uma pista de que medicamentos projetados para intervir na biologia do envelhecimento podem fortalecer a saúde do hospedeiro e contribuir na resposta a doenças infecciosas.

Enquanto aguardamos dados cientificamente comprovados sobre a segurança e eficácia de geroprotetores, o que posso fazer para preparar meu corpo para uma possível infecção viral?
Zonari – Comportamentos simples, como se exercitar e seguir uma dieta saudável, naturalmente ajudarão a reduzir os níveis de inflamação no seu corpo. Isso se deve ao fato do músculo esquelético ser um regulador essencial da imunidade. Quando o músculo é ativado através do exercício, libera moléculas chamadas miocinas que alteram o perfil das células imunes para um estado anti-inflamatório, aumenta o número de células do nosso sistema imunológico responsável por matarem as células infectadas e modula as células adiposas (também responsáveis pela liberação de moléculas inflamatórias).

Um estudo recente comparou os níveis de inflamação no sangue de adultos com idade mais avançada (55-79 anos) que realizaram regularmente atividade física de alta intensidade (ciclismo de 100 a 150 quilômetros/semana) com indivíduos sedentários, incluindo jovens adultos e idosos. O resultado foi impressionante e determinou que os níveis de inflamação no sangue para os idosos que praticavam o exercício foi semelhante aos níveis encontrados nos jovens adultos.

Para aqueles que não gostam de se exercitar com tanto vigor, outro estudo envolvendo 200 pessoas com mais de 65 anos demonstrou que aumentar a contagem diária de passos para mais de 10.000 passos pordia diminui também é capaz de reduzir os níveis de inflamação no sangue.

A nutrição é outra maneira de manter um sistema imunológico forte. Uma microbiota intestinal saudável, uma dieta rica em frutas e legumes, vitamina D, zinco e baixo teor de açúcar demonstraram influenciar o sistema imunológico, reduzindo níveis de inflamação.

Como você vê as pesquisas sobre o envelhecimento e a longevidade impactando a sociedade?
Zonari – Sou bastante otimista e estou particularmente muito empolgada com o que virá nos próximos anos. Nos últimos anos, tem havido um aumento considerável no número de pesquisadores, institutos, startups de biotecnologia e financiamento no campo da longevidade.

Não há maneira mais lógica de combater doenças e infecções do que através de prevenção. E isso, nunca esteve tão claro. Todas as recém-instituídas restrições trazidas pelo COVID-19, incluindo a quarentena, nos fizeram perceber que a saúde é nosso ativo mais precioso.

Pesquisas de longevidade mostraram que estilo de vida e intervenções terapêuticas são capazes de atrasar o processo de envelhecimento em humanos, e aumentar os anos de vida saudáveis. O envelhecimento não precisa ser um fardo, como infelizmente é comum hoje em dia. O envelhecimento pode ser tratável. Devemos mudar a forma como vemos esse processo. O fortalecimento da nossa biologia imunológica equipará melhor nossos corpos para combater doenças futuras, e isso influenciará não apenas a qualidade da sua própria vida, mas terá um impacto significativo na sociedade e economia.

Nunca é tarde para incorporar hábitos saudáveis, independentemente da sua idade. Nos últimos dois anos, mudei alguns dos meus hábitos, incluindo exercícios diários, meditação, jejum e dieta mais saudável e já posso sentir o impacto na minha saúde e energia. Encorajo todos vocês a incorporarem também hábitos saudáveis ao seu estilo de vida. E fiquem atentos ao progresso desse campo! Tem muita esperança pela frente! Como uma pesquisadora da área, posso dizer que os avanços científicos são bastante promissores e quem vamos, em breve, ser beneficiados por novas tecnologias que promovem longevidade.

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Os riscos e as razões para os cientistas estarem clonando o coronavírus

A neurocientista e autora do livro “A Inteligência Artificial nos substituirá?”, Shelly Xuelai Fan, traz à tona o lado obscuro da corrida pela vacina do Coronavírus.



Separamos os principais pontos do artigo publicado pela cientista PhD em biotecnologia e responsável pelo premiado blog NeuroFantastic.com, no SingularityHub.

Nesse instante, a maioria dos pesquisadores biomédicos está ocupada buscando maneiras de esmagar o novo coronavírus. Enquanto isso, biólogos sintéticos estão ocupados clonando o vírus em massa.

No final de fevereiro, uma equipe da Universidade de Berna, liderada pelo Dr. Volker Thiel, publicou uma receita relativamente simples para preparar artificialmente o SARS-CoV-2, o vírus que causa o Covid-19, em laboratório. Exigia apenas dois ingredientes principais: pedaços sintéticos das instruções genômicas do vírus, que podem ser pedidos on-line; e fermento. Em mãos experientes, o processo não é muito mais difícil do que assar pão de fermentação caseira.

O manuscrito, inicialmente postado no servidor de pré-impressão bioRXiv, agora revisado e publicado na Nature, provocou ondas de choque por toda a comunidade biomédica. Com futura verificação, mais laboratórios certificados poderão clonar amostras inteiras do coronavírus em uma semana por aproximadamente US $ 30.000. Ao “democratizar” o acesso ao novo vírus, mais laboratórios poderão trabalhar em testes de diagnóstico, medicamentos e vacinas, potencialmente colocando o vírus de joelhos mais rapidamente e salvando a vida de milhões de pessoas.

O problema – No entanto, existe um lado sombrio desse acesso mais amplo: a mesma plataforma usada para fazer o SARS-CoV-2 do zero também pode potencialmente torná-lo mais mortal ou mais transmissível. Em um cenário pessimista, a mesma tecnologia que poderia nos livrar da praga também poderia transformá-la em uma arma biológica.

É um dilema há muito tempo fomentado no campo dos vírus sintéticos – o problema do “uso duplo”. “Na biologia [isso significa que] as técnicas necessárias para projetar uma arma biológica são as mesmas necessárias para realizar pesquisas legítimas”, explicou o Dr. Guoyu Wang, do Centro de Ética Biomédica da Universidade Fudan, em Xangai. Mesmo se as motivações originais fossem nobres, qualquer “desvio, uso indevido ou abuso durante a pesquisa”, como vazamentos acidentais de laboratórios, poderia significar uma calamidade global.

Uma questão com precedentes – Essas preocupações frequentemente formam a base das teorias da conspiração. Mas elas não são pura fantasia. Em 2014, cientistas federais descobriram meia dúzia de frascos de vírus da varíola, contra os quais a maioria dos americanos nascidos após 1972 não tem imunidade, enquanto limpavam as instalações de armazenamento do National Institutes of Health. Esquecimento à parte, várias cepas de influenza foram tornadas mais contagiosas usando a biologia sintética, com base em testes em furões. Os cientistas estão legitimamente preocupados com uma cepa viral fabricada ou vazada em laboratório que possa causar estragos.

A receita do coronavírus de Thiel e sua equipe trouxe esses debates de volta com fervor total, graças em parte à simplicidade da receita. Mas talvez o mais preocupante seja que a mesma plataforma possa clonar uma ampla variedade de vírus – aqueles conhecidos por nós e potencialmente aqueles que ainda serão descobertos.

O livro de receitas do vírus sintético – Para vencer um vírus, primeiro conheça bem seu inimigo.

A maneira mais fácil de controlar o vírus é obter tecido biológico infectado, o que foi difícil no início da pandemia fora de Wuhan, na China. A segunda via é tentar cultivar o vírus dentro de células imortalizadas – no caso da SARS-CoV-2, células pulmonares – mas é como fabricar carros que explodem a fábrica e eles mesmos no meio da construção.

Isso deixa espaço para a terceira via: criar o vírus do zero. Graças aos avanços na biologia sintética e na engenharia do genoma, tornar genomas de vírus inteiros em bactérias ou leveduras se tornou mais barato, mais fácil e mais rápido. Um artigo recente sobre a engenharia do SARS-CoV-2 usou bactérias como fábrica viral.

No entanto, a equipe de Thiel seguiu a rota do fermento. O motivo, explicou, é que os coronavírus têm genomas extraordinariamente grandes, o que dificulta o enfrentamento de bactérias – algo como desafiar uma criança de três anos com um complexo conjunto de Lego – que leva a erros no genoma do vírus. O fermento, por outro lado, é muito mais flexível.

Além disso, o fermento também tem um poder especial para colar automaticamente pedaços de material externo de DNA em uma sequência completa do genoma. Isso é impressionante: em vez de sintetizar todo o genoma do coronavírus por meio da química, é possível fazê-lo em pedaços para reduzir custos, e o fermento irá “magicamente” montar as peças como um quebra-cabeça.

O início de tudo – O projeto começou em janeiro, logo após os pesquisadores chineses terem divulgado o projeto genômico do vírus. A equipe de Thiel dividiu o genoma em 14 pedaços gerenciáveis, cada um com sequências ligeiramente sobrepostas, e solicitou DNA sintético que correspondesse aos pedaços do genoma viral de uma empresa comercial.

Três semanas depois, após receber os fragmentos pelo correio, eles inseriram o DNA – que juntos representam todo o genoma da SARS-CoV-2 – no fermento. Então, se sentaram e viram as células de levedura fazerem sua mágica, colando as sequências sobrepostas nos fragmentos para transformá-los em genomas completos. Apenas dois dias depois, a equipe conseguiu verificar o fermento, que agora florescia em “colônias” pontilhadas em um prato, em busca de sinais do genoma do vírus.

Finalmente, eles extraíram o material genético do vírus da levedura na forma de DNA e o transformaram em RNA – algo como traduzir um idioma para outro – que o vírus naturalmente usa para se multiplicar.

Voilà: em menos de uma semana, a equipe conseguiu gerar um vírus totalmente sintético, relativamente novo para os humanos, e usá-lo para infectar células sacrificiais em um prato, para estudar. Como prova de conceito do poder da plataforma, a equipe também criou uma versão do vírus que brilha no escuro, que pode ajudar a rastrear medicamentos antivirais. Se os medicamentos funcionarem, esta versão “rave” do vírus deve perder o brilho.

O dilema da biossegurança – A plataforma de Thiel para a engenharia do SARS-CoV-2 se destaca por sua velocidade e simplicidade. De acordo com Susan Weiss, microbióloga da Universidade da Pensilvânia, que não participou do estudo, o mais interessante é que as leveduras são produtoras muito rápidas de vírus. Enquanto “outros métodos são tediosos e difíceis”.

A velocidade em um surto é essencial, não apenas para contenção, mas também para pesquisa. A nova plataforma é um ponto de partida para os laboratórios alterarem facilmente o genoma do coronavírus, vendo o que o impede replicação ou quais sequências genômicas o tornam mais fraco ou até incapaz de infectar seres humanos. A cereja no topo: o sistema exige apenas que o fermento remonte o genoma do vírus uma única vez. É extremamente fácil coletar mais coronavírus reutilizando células de levedura prontas para produção de vírus, como na fabricação de cerveja.

A mesma técnica para terroristas e cientistas – No entanto, esses pontos de venda são exatamente o que preocupa os bioeticistas. “Ao publicar o roteiro da tecnologia, é possível que cientistas e terroristas apliquem a mesma técnica para sintetizar vírus mais complexos ou desenvolvam um ‘super vírus’ com infectividade, virulência ou resistência a vacinas, extremamente alta”, escrevem Wang e colegas em um comentário do método de Thiel.

Para Thiel, as preocupações não devem ser menosprezadas, mas a promessa da biologia sintética no combate a surtos também não. “A biologia sintética amadureceu em direção a uma técnica poderosa que afetará a comunidade científica – e nossa sociedade em geral”, comentou em um dos primeiros estudos com técnica de levedura semelhante para reconstruir um grande genoma viral do zero.

A tecnologia já está aqui, e cabe a vários agentes, como os governos, abordarem o potencial de uso indevido. Os vírus sintéticos – incluindo um clone do vírus da gripe de 1918, que os cientistas trouxeram de volta à vida no laboratório – já forneceram insights sobre contágios mortais que costumavam estar algemados aos caprichos do país do marco zero. Nem todo laboratório pode participar da reconstrução do vírus; por enquanto, é regulamentado para poucas instituições selecionadas, com os recursos de biossegurança de mais alto nível e pessoal altamente treinado.

Se os vírus clonados ajudarão a acabar com a pandemia atual, é uma incógnita. Quanto ao problema de uso duplo de pesquisa e bioterrorismo, não temos resposta. No entanto, o uso de vírus mortais clonados é cada vez mais defendido como uma maneira de combater surtos, quer estejamos confortáveis ​​e prontos ou não.

Enquanto isso, Thiel já está olhando para a próxima pandemia – e para o futuro da biologia sintética como um todo. “Temos que encontrar uma maneira de lidar com o fato de que essa tecnologia [biologia sintética] permitirá a geração de micróbios projetados e, finalmente, a vida sintética”, afirmou.

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Supercomputador Santos Dumont está disponível para pesquisas do Covid-19

Na última semana, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), sediado na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, anunciou que o supercomputador Santos Dumont estará disponível para cientistas e pesquisadores que estão trabalhando em projetos relacionados ao Covid-19.

O Santos Dumont está em 193º lugar no ranking global de supercomputadores mais poderosos do mundo e é o maior da América Latina.

A máquina tem 5,1 petaflops, ou seja, é capaz de realizar 5,1 quatrilhões de operações por segundo. É como se sua capacidade de processamento fosse equivalente a 62 mil iPhones 11 ou 20 mil computadores Mac Pro (o mais potente da Apple).

Com o aumento exponencial na produção de dados, os supercomputadores são as ferramentas para o tratamento desses dados.

Você sabe como a liderança liberal impacta as empresas? Entenda mais sobre esse modelo

Além de colaborar na exploração de óleo e gás no país, o Santos Dumont integra outros 150 estudos científicos, como desenvolvimento de novos fármacos focados no HIV, análises genômicas, propriedades de nanomateriais, dinâmica molecular, modelos climáticos e pesquisas sobre zika e dengue.

Segundo o LNCC, o supercomputador já está sendo utilizado em três projetos de pesquisa relacionados ao novo coronavírus.

Em novembro de 2019, o LNCC recebeu um investimento de R$ 63 milhões. O aporte foi essencial para dar continuidade ao projeto e custear os gastos com eletricidade, até então bancados pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.

Com a iniciativa, os pesquisadores terão acesso livre ao software Parabricks da NVIDIA Enterprise por 90 dias para otimizar tarefas de pesquisa, como reduzir o tempo gasto para analisar um genoma humano inteiro de dois dias para menos de uma hora.

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Chapter Summit: SingularityU Brazil

Na última semana, nos dias 6 e 7 de maio, aconteceu o primeiro SingularityU Brazil Chapter Summit.

Temas como inovação de resultados, empreendedorismo de impacto e ferramentas de criação de futuro foram apresentados e debatidos ao longo de dois dias de summit.

No primeiro dia, os chapters Conrado Scholchauer e Matheus Lima, mediados pelo co-CEO da SingularityU Brazil, Reynaldo Gama, discutiram sobre as habilidades essenciais para lidar com os desafios das próximas décadas – e qual o papel da tecnologia nesse processo.

Há um ano, fiz uma pesquisa sobre as habilidades do futuro. As 4 principais são: a capacidade de aprender, a curiosidade, a curadoria do conteúdo absorvido e a adaptabilidade.” – Conrado Scholchauer

A flexibilidade cognitiva é a capacidade da gente abrir mão de conceitos e teorias, para aderir a uma nova. E tomar decisões em um mundo volátil demanda muita criatividade. Você só consegue resolver um problema que nunca existiu se conseguir imaginar uma solução que nunca ninguém supôs, isso requer capacidade cognitiva criativa. Como aumentar isso? Com repertorio, vivências e a habilidade de estar efetivamente vivendo o presente – se permitindo ter raciocínios críticos a todo instante” – Matheus Lima

Quer saber mais sobre os interessantes insights de Scholchauer e Lima? Clique aqui.

Mais tarde, foi a vez de Guilherme Soárez, co-CEO da SingularityU Brazil, moderar o debate entre os chapters Diego Julidori, Filipe Braga Ivo e Vinícius Debian, sobre os chamados 12 grandes desafios globais, após o cenário de pandemia. Durante a conversa, os convidados fizeram um raio-x dos setores que podem revolucionar o futuro da economia, do meio-ambiente e da sociedade. Assim como as oportunidades de negócios para organizações com soluções inovadoras.

O primeiro grande desafio é o da energia, que se correlaciona com meio ambiente, fome, abrigo, espaço, água. E, depois, começamos a pensar nas necessidades sociais: resiliência, desastres, governança, saúde, educação, prosperidade e segurança. Essas são as necessidades que a Singularity quer direcionar seus esforços para colaborar na busca pela solução através da tecnologia, empreendedorismo e do indivíduo – que é o agente de transformação de tudo. Há 10, 20 anos, a gente achava que os grandes problemas do mundo seriam resolvidos pelos governos ou grandes corporações, nunca tinha a ver com a gente. Agora, é tudo com a gente!” – Filipe Braga Ivo

Como as pessoas podem se preparar para receber esse mundo novo? Como o aprendizado exponencial pode acontecer sem estarmos de fato preparados para receber e trabalhar os novos tipos de tecnologia? Esse é o desafio.” – Vinícius Debian

O primeiro mindset é: não existe receita de bolo, todos nós precisaremos nos adaptar. É necessário estar aberto a todo tipo de ideia, por mais irracional que ela pareça. Diz-se que o homem razoável se adapta ao mundo e o homem irracional tenta adaptar o mundo a si mesmo. Mas o progresso vai depender do homem irracional. Porque não vai ser pensando e fazendo as coisas do mesmo jeito que haverá evolução” – Diego Julidori

Você pode assistir a esse debate inspirador sobre cada um dos 12 desafios neste link.

No segundo dia de summit virtual, o gerente de conteúdo da HSM Thomaz Gomes moderou os chapters Anna Paula Graboski, Brenno Faro e Marcus Casaes. O encontro promoveu um debate sobre como a combinação entre empreendedorismo de impacto e tecnologias exponenciais pode ser usada para reverter momentos de escassez em cenários de prosperidade.

A melhor forma de se tornar um bilionário, é vendendo algo a $1 para 1 bilhão de pessoas. Esse é um pensamento trazido pelo Peter Diamandis dentro do conceito de abundância. E, qual mercado te permite vender um bilhão de qualquer coisa? Os mercados que se propõem a solucionar os grandes problemas do mundo. Fome, energia, água. É possível gerar resultado fazendo bem à cadeia produtiva, à descentralização de riqueza, gerando empregos, pagando acima da média de mercado, etc. É possível ter um negócio lucrativo. E o melhor jeito de fazer isso é através da resolução real de um problema. Se cada vez mais empresários olharem por essa ótica, teremos aí um caminho viável para um novo mundo” – Anna Paula Graboski

É necessário pensar um pouco para além do nosso ímpeto de atender às necessidades sem uma inteligência por trás. Um exemplo: havia demanda por máscaras. Pensamos se distribuir essas máscaras, fazendo apenas uma ponte entre doadores e pessoas que necessitavam desses itens, ajudaria. Ou se poderíamos fazer mais, conectando costureiras autônomas sem renda com pessoas precisando dos seus serviços. Nosso modelo conseguiu apoio da iniciativa porque acreditamos que a doação é uma ação isolada, mas criar uma mecânica por trás gira a economia. O dinheiro de doação é apenas um dinheiro. Em ações como a que propomos, a cada R$1 na nossa ação, R$3 são gerados na economia do país. Quando falamos de sustentabilidade, falamos de prosperidade, de meio ambiente… Assistencialismo é importante, mas não é isso que vai mudar o mundo” – Brenno Faro

É preciso entender que precisamos de negócios que superem os modelos B2C, B2B. Precisamos de negócios Human2Human. O propósito precisa vir. Para que você empreende? Que tipo de impacto sua empresa gera para a sociedade? Se ela fechar, que falta fará ao consumidor? O ser humano precisa ser o ponto focal” – Marcus Casaes

Você pode checar o papo entre Graboski, Faro e Casaes na primeira parte deste vídeo

No mesmo dia, ficou sob o comando do COO da SingularityU Brazil, Álvaro Machado, o debate sobre inovação de resultados. Os chapters Alexandre Uehara, Ana Beatriz Portela e Renato Cunha debateram sobre qual é a melhor estratégia para criar movimentos de transformação digital que atendam às demandas de empresas e pessoas, entre a urgência do momento e a oportunidade de disrupção.

Já se fala sobre transformação digital há um tempo. Muitos diziam que conheciam, que sabiam do que se tratava, mas em meio à pandemia, viram que dominar a teoria não é o mesmo que estar pronto. Acredito que o início de tudo deve ser na cultura da empresa, com as pessoas. Não adianta investir em transformação digital sem que os colaboradores estejam preparados e tenham aderido ao novo mindset.” – Alexandre Uehara

A transformação digital consiste na melhora do desempenho, aumento de alcance, atingimento de melhores resultados. Mas isso requer métodos. Transformação digital passa necessariamente por transformação cultural. Os processos, as diretrizes, as plataformas, tudo precisa estar muito alinhado para engajar as pessoas. Vamos trabalhar na era da coletividade mais que nunca” – Ana Beatriz Portela

Eu gosto muito da fala do Yurval Harari de que uma pandemia dá um fast forward na história. Temos acompanhado nos últimos 5 anos as pautas: revolução digital, inovação, propósito. Mas a pandemia coloca as coisas em um outro patamar e, de um dia para o outro, as resistências cessam. Entra em campo um senso de urgência, de sobrevivência. Estamos vivendo um momento histórico único, doloroso, mas que exige que nós, enquanto sociedade e organizações, que nos adaptemos rapidamente focando em eficiência e valores relevantes” – Renato Cunha

Esses e outros pensamentos sobre as transformações digitais pós-Corona vírus, você encontra na segunda parte deste vídeo