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Como a inteligência de dados pode ajudar no enfrentamento do coronavírus

A confirmação de pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde) abriu um novo capítulo na crise global desencadeada pelo coronavírus. Em um cenário de medo e incerteza, a inteligência de dados pode ser uma ferramenta essencial para coordenar ações coletivas de acesso a informações públicas e tomadas de decisão. É o que diz Onicio Leal Neto, epidemiologista, cientista, PhD em Saúde Pública, pesquisador sênior do departamento de Economia da Universidade de Zurich e cofundador da Epitrack.


Palestrante confirmando do “COVID-19 The State & Future of Pandemics”, summit virtual da Singularity University que acontecerá de 16 a 18 de março (a inscrição é gratuita), Onicio falou com o blog da SU Brazil sobre como a tecnologia pode ser usada para a ajudar governos e organizações a navegar nesse momento de crise.

Qual é o papel da inteligência de dados no cenário apresentada pelo coronavírus?

Não é a primeira vez que a humanidade vivencia uma pandemia, mas talvez seja a primeira vez estejamos atravessando uma pandemia com uma pulverização tão grande de informação através de meios tecnológicos, como temos observado.
E isso, é claro, gera muitos desafios na tentativa de coordenar informações confiáveis, evitar fakenews e fazer uso correto das mídias sociais em uma situação tão crítica como essa do COVID-19. Felizmente, o uso de tecnologias e inteligência de dados no combate a situações como essa não é algo novo. Já existem plataformas que se utilizam de inteligência coletiva na coleta de informações sobre o surgimento ou ocorrência de doenças, há pelo menos 10 anos.

A sociedade tem um papel fundamental no manejo e alimentação de sistemas como esse que preenchem a lacuna que existe entre o adoecimento do indivíduo e o momento em que ele é contabilizado como um caso confirmado, no sistema de saúde. A inteligência coletiva é capaz de gerar uma antecipação em relação a número de casos, por exemplo. E, se conseguimos antecipar uma situação, conseguimos minimizar os danos que essa situação pode causar.

Nos EUA temos movimentos como a “Citizen Scientist Association” que é o envolvimento do público em pesquisas científicas – sejam pesquisas conduzidas pela comunidade ou investigações globais. Educadores, cientistas e gerentes de dados se unem para fomentar a ciência cidadã.

Na Europa, também existem movimentos de ciência participativa em que o cidadão comum é agente imprescindível. Os governos se beneficiam com sistemas como esse, que agem de maneira complementar às abordagens tradicionais. Quando os sistemas atuais de vigilância e saúde em governos (não só no Brasil, mas em outros lugares do mundo) precisam levantar informações em tempo oportuno, sistemas como esses colaboram de maneira rápida.

Como o crowdsourcing e o mobile health podem ser usados em situações como essa?

Crowdsourcing e plataformas de mobile health têm sido muito utilizadas nos EUA, Canadá, Porto Rico, por boa parte Europa e, também, no Brasil. Essas ferramentas demandam que seus usuários forneçam detalhes sobre seus sintomas e, a partir dessas informações, é possível identificar tendências referentes às doenças, gerando mapas de risco.

Essas tecnologias atuam diretamente na antecipação de riscos de ocorrência ou disseminação de surtos de doenças. Viabilizando, assim, um planejamento mais assertivo, para que os danos não sejam tão extensos – como seriam se não tivéssemos uma abordagem como essa.

O Brasil esteve no hall de países que utilizaram essa tecnologia em grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Recentemente, o Governo Federal lançou uma plataforma que solicita informações dos cidadãos sobre seus sintomas com o intuito de mapearem regiões com alguma tendência de ocorrência de surtos.

A parte positiva de uma situação como essa é que a gente começa a ressignificar velhos métodos, velhas estratégias, e começa a buscar inovação na contenção surtos, epidemias e pandemias.


Como a tecnologia pode ser aplicada na resolução direta do desafio atual da sociedade?

A tecnologia em uma situação como essa não se resume à coleta de dados. O usuário não tem apenas a obrigação de fornecer dados sobre a sua saúde.

Sim. Essas tecnologias informam o usuário e passam uma mensagem: você é parte da construção de um cenário de melhoria na saúde pública. O cidadão se vê como parte fundamental na coleta de informações que a comunidade médica e científica utilizarão para definir cenários e diretrizes.

Quando você traz o cidadão para perto e o coloca como ator estratégico na construção coletiva de informações, isso tem um grande ganho: ele se sente parte daquilo e fica muito mais engajado com a situação, ajudando e melhorando sistemas, com dados recorrentes.

A tecnologia tem esse papel de ser um meio para unir pessoas em busca de soluções para situações brandas ou mais críticas, como essa que estamos vivendo. O coronavírus acaba sendo uma oportunidade de mudarmos velhos conceitos e partir para o que de fato pode melhorar essa situação.

Já temos casos de boas práticas em relação ao COVID-19?

Aqui na Suíça, empresas estão começando a pedir para que seus funcionários não venham trabalhar, com o intuito de protegê-los. E, realmente, agora é um momento muito sensível de proteção ao bem-estar coletivo. Então, práticas organizacionais que visam evitar o contato social colaboram no que pode ser um dos principais pilares na contenção do avanço no número de casos.

Se não existe contato entre pessoas doentes – ou pessoas que têm o vírus, mas estão assintomáticas – com pessoas saudáveis, é óbvio que os casos diminuirão. E as empresas precisam entender que, em algum momento, essa interrupção da relação social será necessária. Pelo menos de uma maneira temporária, por um bem muito maior que é evitar a disseminação do vírus.

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